quarta-feira, novembro 23, 2005

Conversa entre comadres: sobre limões e abacaxis

Dia desses, tive o prazer de almoçar na companhia de uma grande amiga. Comíamos os pratos de sempre, mas com temperos novos: o ambiente, a porcelana, rostos diferentes ao redor. Diga-se da companhia que poderia ser somente uma colega, mas que, graças a alguns traços de personalidade em comum - o incansável idealismo, sobretudo - se tornou uma AMIGA com letras maiúsculas. Eis que, conversa vai, conversa vem, como inevitavelmente acontece em prosa de duas comadres que, além dos já ditos traços de personalidade, compartilham também o mesmo título no diploma – bacharel em comunicação social com ênfase em publicidade e propaganda, em suma, “publicitária” - entram em pauta os temas trabalho e profissão. E com eles os tópicos posturas profissionais, empresas, estilos de gestão, chefes, subordinados e por aí.
Depois de citar alguns bons exemplos, alguns medianos, e outros que ao nosso ver não devem ser imitados, passamos aos sonhos e aos planos (nessa ordem) do que ambas tencionamos fazer no curto-prazo, às portas já entreabertas, àquelas em que só falta passar umas duas voltas à chave para que encerrem algo que já teve seu tempo e seu espaço. Nessa conversa, acabamos por fazer, mesmo sem palavras que o marcassem de forma explícita, um juramento, um pacto mútuo: buscaríamos espremer menos limões e descascar menos abacaxis em nossas próximas empreitadas. Daríamos mais espaço às ginásticas mentais, aos bordados e remates, às chaves de ouro ao fim de cada tarefa.

Felizmente não é regra, mas acontece com alguns bons profissionais: há casos em que se transformam nos espremedores de limão de plantão, nos descascadores oficiais de abacaxi (veja, não necessariamente o caso das interlocutoras dessa prosa!). Tudo bem que esses profissionais sejam capazes de tais proezas, de fazer a limonada mais doce já experimentada, de descascar o espinhoso fruto em tempo recorde. Mas, vejamos: vale a pena empregar tanta habilidade ou, usando o jargão dos RH, tanto talento em maior medida para os consertos do que para os acertos que possam levar a novos projetos, serviços, produtos e até a novas empresas?

A discussão naquele almoço entre amigas e colegas de profissão chegou a um diagnóstico indigesto: os espremedores-de-limão-de-plantão-e-descascadores-oficiais-de-abacaxi são, em geral, muito competentes, chegam sempre a uma ou outra solução apropriada, ao final sempre servem a limonada ao superior e aos demais colegas. Mas nem sempre tem o devido reconhecimento. Claro está que para tais feitos são comprometidos com seu trabalho. Claro está também que têm de sobra o chamado jogo de cintura, característica bastante valorizada por muitos empregadores. Entretanto, ao fim, como somente espremem limões e descascam abacaxis, são com alguma freqüência intencionalmente rotulados e profanados como “quem só faz isso”, “só é capaz disso” e não de empreender e produzir também. E nesse papel “menor” acabam por não alcançar a recompensa pleiteada, isto é, remuneração justa, reconhecimento e perspectivas de crescimento. Aqui, gostaria de fazer uma referência ao texto que acabo de ler no blog “Arguta Café” (arguta.blogspot.com), publicado por um profissional a quem devoto grande admiração e a quem tenho como um bom exemplo de “bom exemplo” de profissionalismo. Empresa e funcionário devem estar quites, deve haver responsabilidade e respeito dos dois lados. Deve ser um bom negócio já que, no fundo, é um negócio. E, como já se diz há tempos, bons negociantes (no melhor sentido do que é “ser bom” no que se faz), no fim das contas, chegam ao famoso “ganha-ganha”, ganha a empresa, ganha o funcionário. Se isso não existir, se um dos pratos da balança estiver pendendo mais que o outro, é razoável rever a relação. Os dois lados em hora ou outra terão que espremer limões (e quantos!). Mas que sejam distribuidos e que a limonada seja saboreada por todos. E que haja espaço equivalente para empreender e produzir. Sempre. Pois me parece ser da natureza do bom profissional querer colocar sua marca sobretudo em feitos, em realizações. E da natureza das empresas preocupadas em manter seus talentos e seu capital humano valorizar essa motivação natural. Moral da história: procure sempre mostrar que é capaz de mais do que lidar com limões e abacaxis!

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Amandita!

É fato que no mundo corporativo muito pouco ou nada se dá de valor aos que têm uma posição menos favorecida e que, no entanto, se não fosse por eles, nenhuma empresa seria o que é.
Uma empresa não se faz exclusivamente de executivos ou gerentes ou diretores, mas sim e com muito louvor por todos aqueles que se levantam cedo para dar sua contribuição e que lamentavelmente, poucas vezes conseguem saborear uma fatia de bolo considerável da mesma forma que os seus superiores.
Tomando seu exemplo de limões e abacaxis, de nada adiantaria um executivo plantar se não houvesse quem cultivasse, recolhesse distribuísse ou mesmo preparasse a refeição, pois sem a participação de tais profissionais, tudo se perderia no solo.
Graças a Deus temos bons profissionais para preparar a terra, cultivar o solo, fazer a colheita, acondicionar o alimento. Profissionais esses que cada vez mais se dedicam e chegam à excelência em seu trabalho, desenvolvendo-o, acima de tudo com muito respeito ao próximo.
Felizmente o mundo corporativo está mudando e percebendo que quando se trabalha em regime de cooperação o trabalho flui de maneira equilibrada.
Ainda falta muito, mas é preciso dar-se um voto de crédito, pois neste mundo em que vivemos, quem não se adapta às mudanças, acaba ficando pra trás.
Somos todos peças importantes de um processo permanente neste ciclo de mudanças.

Bjs,

Pilar

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

De acuerdo, Ana! Em outras palavras, é isso aí... Sin perder la ternura, jamás!