sexta-feira, dezembro 02, 2005

As 1.000 histórias

Já sei, já sei... Escrever sobre pena de morte parece coisa de vestibulando treinando argumentação com um tema já bem gasto. O caso é que hoje li na página de abertura do UOL a seguinte manchete: “EUA executam milésimo condenado à morte”. E imediatamente tentei abstrair o inalcançável sentimento de se estar fadado a uma injeção letal. A angústia da espera. Sofrimento talvez maior que o da própria morte. No perfil do milésimo condenado, ao qual se impunha a pena capital por ter matado esposa e sogro na frente dos dois filhos, além dos problemas com alcoolismo, algo mais chamava à atenção: era veterano da Guerra do Vietnã.

Meu sábio pai (e se você o conhece concorda que o “sábio” ali não está à toa) costuma dizer que uma pessoa somente muda, para melhor ou para pior, se passa por uma experiência visceral. Se prova algo que “sente nas veias”, isto é, capaz de alterar o ritmo das pulsações com intensidade e por tempo suficientes para deixar registrado um novo estado de espírito no ser.

Segundo a notícia, o veterano de guerra nunca negou ser culpado pelo crime ao qual fora condenado, mas afirmou que os traumas vividos no Vietnã contribuíram para alterar o seu estado mental no dia do crime. Ouso traduzir que, em outras palavras, ele nunca mais fora o mesmo depois do vivido durante a guerra. Que em seu tempo no front registrou o comando “matar” como ordem para momentos em que o ritmo de sua pulsação chegasse à determinada intensidade. Para mim, é difícil dizer com convicção quem é o verdadeiro ou maior culpado. E que dizer das outras 999 histórias?

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