quinta-feira, dezembro 08, 2005

Tagarelas

Ontem, ao ver num noticário de TV algum político discursar com as devidas frases prontas, as pausas cronometradas, a assertividade calculada e o dissimulado olhar no olho (nesse caso, na câmera), pensei que ditos tagarelas são um ótimo exemplo dos espetáculos de que é capaz o chamado media trainning. Para quem não está familiarizado com o termo, media trainning é um tipo de treinamento aplicado, em geral, por empresas especializadas em assessoria de imprensa. Esse treinamento, além de postura, impostação de voz e afins, ensina a quem fala à mídia (ou ao público) como se expressar para ser entendido dessa ou daquela maneira, por tal ou qual interlocutor. Ensina também artifícios de argumentação para as incômodas saias justas ou situações em que simplesmente não se quer (ou não se pode) comentar o assunto, mas há que se parecer objetivo e contundente. Certamente, estes senhores, os políticos, estão entre os melhores alunos da matéria (ou piores, dependendo do ponto de vista). E há muito já ultrapassaram as fronteiras da timidez e da “vergonha”.

Imaginei então que aconteceria se passasse a existir um órgão de regulamentação da atividade de relações públicas (a exemplo do CONAR para a publicidade), voltado a regular forma e conteúdo dos discursos veiculados na mídia. O intuito seria manter um mínimo de veracidade no que se fala e um máximo tolerável de uso dos artifícios de retórica. “Discurso enganoso”, “plágio de argumentação”, “matéria ofensiva” e “sofismas” seriam tratados como infrações graves. Penalizar-se-iam os contraventores com períodos de mudez pública compulsória (curtos ou longos, dependendo dos delitos). Aplicadas as regras à situação atual, ficaríamos um bom tempo sem ouvir muitos e muitos tagarelar por aí. Fica dada a sugestão!

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