domingo, março 18, 2007

Dois e dois diferente de quatro

Há três semanas, freqüento como ouvinte as aulas da disciplina "Ética e Responsabilidade Social na Engenharia" ministradas pelo professor Carlos Goldenberg no curso de graduação em Engenharia de Produção da EESC-USP (http://www.sel.eesc.usp.br/). Num primeiro olhar, a presença da matéria entre as tantas exatas da grade curricular pode causar estranheza, ainda que como optativa. Mas, de pronto, entendemos que o objetivo das aulas é justamente apresentar um contraponto aos estudantes de perfil mais racional e cético que, grosso modo, povoam as salas de aula deste e dos demais cursos de engenharia. Levar os prováveis futuros gestores das grandes e médias empresas do país (sabidamente, em sua grande maioria engenheiros formados nas chamadas faculdades de primeira linha) a refletir sobre a extensão e relevância dos fatores humanos, éticos e sociais na gestão das organizações.
Tenho para mim que a iniciativa do professor Goldenberg, além de original e bem intencionada, poderia ser alvo de plágios Brasil afora. Para a formação do profissional do ponto de vista ético, como forma de humanizar a prática da gestão, sem negar ou perder de vista as competências necessárias para a consecução das metas de lucratividade e competitividade das empresas. E, no extremo, procurar diminuir a presença ainda tão marcante e numerosa no mundo corporativo de gestores ao estilo "Doutor Pimpolho", popular personagem do rádio paulista que representa de maneira caricata um chefe excessivamente pragmático e de viés autoritário.


Para ilustrar e convidar à reflexão, reproduzo frase de Goethe que sintetiza o tom das aulas e sobre a qual tenho pensado um bocado nos últimos dias:
"O conflito mais difícil de resolver não é entre o certo e o errado... E sim entre o certo e o certo."

28 comentários:

Ernesto Dias Jr. disse...

Ética é extremamente importante na engenharia, mesmo que não se saia, nunca, da prancheta.
Um engenheiro ético já personifica, de per si, um agente da responsabilidade social, mesmo que não se aperceba disso.
A ilustração mais contundente desse fato se faz exatamente pelo oposto: engenharia que resulta em componentes que podem engasgar uma criança pequena, ou uso de tinta tóxica, ou uso de chumbo em uma solda que vai, depois, contaminar o ambiente, ou um nacalhau soldado numa viga de estação de metrô.
Vou visitar o link. Deve ser interessante.

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Acho que isso vale para todas as profissões. E é esta idéia que o professor Goldenberg quer passar. Segundo ele mesmo diz, o "na engenharia" no nome do curso está só para justificar (e facilitar) sua presença na grade.
O que mais me entusiamou (e entusiasma) é o foco levar os engenheirinhos a considerar o assunto e que as decisões profissionais vão e devem ir além do exato, do lógico. Afinal, por princípio, podemos ser éticos e agir de modo completamente diferente. Temos que considerar a existência de várias éticas e quais implicações estas têm no mundo (mesmo que seja nos nossos mundinhos). É esse o recado!
Ficam a dica e vários adjetivos simpáticos para a proposta.

Udi disse...

Claro que é louvável que, em tempos de "Dr. Pimpolho", uma faculdade de renome dedique um espaço em sua grade, ainda que optativo, para o tema Ética. Mas não deixo de lamentar o fato de alguns valores que deveriam estar presentes desde as mesas de almoço de domingo (...e de segunda, de terça,...) até qualquer sala de aula, sendo passados naturalmente, como se fosse o ar que respiramos, necessitem de tempo e lugar específico para serem pensados.
(uh! acho que exagerei... falou mais alto a velha senhora!)

Anne M. Moor disse...

Ética é o que está faltando em todas as profissões, mas antes das profissões, está faltando nas pessoas - o almoço de domingo da Udi... o ensino, pelo exemplo, de bons valores do Ernesto, além de caráter e, especialmente, posição diante da vida. Em suma, repensar a conduta humana... Afinal, somos seres humanos (????) e lidamos, interagimos, convivemos com seres humanos diariamente...

Flavio Ferrari disse...

Mais do que ética, acho que a falta é Po-ética.
Estou com a turma do pavilhão 9: Essa é a trilha do futuro dos aliados, ritmo e poesia.
Ética, como conceito, me parece tão árida quanto a visão estereotipada que se faz da engenharia.
Os verdadeiros engenheiros são poetas concretos.
O Ernesto está aí para provar isso.

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Flávio,
Acho que peguei (sem querer!) no calcanhar de alguém...
Sobre a aridez, depende de como a estudamos, a tal da ética. Se com poesia, como penso está se fazendo lá na USP, fica mais suave, sem perder a seriedade necessária. Sobre os engenheiros, bem, pode ser mesmo uma visão esteriotipada, mas a intenção, penso, é que os engenheirinhos não se agarrem a este caricatura vida profissional afora.
Valeu pelo contraponto.
E, em tempo, você dá aulas desta matéria na prática diariamente e com muita propriedade.
Beijo,
Amanda

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Queridas Anne e Udi,
Tive a impressão de que os que estão lá como alunos estão entre os que têm estas referências positivas e didáticas na vida familiar e pessoal. Sendo eletiva, a disciplina atrai justamente os interessados e se aprofundar no tema. O fato é que, ainda para estes, há certa dificuldade em entender como transportar esta prática individual para o mundo corporativo, mantendo-se competitivo e tudo mais.
Parece-me que o tema deva ser discutido incansavelmente e para todo o sempre em todos os âmbitos, pois o equilíbrio é delicado por princípio.
Beijo,
Amanda

Anne M. Moor disse...

Amanda:
Não deveria ser necessária uma disciplina, mesmo que eletiva, para isso. A Ética deveria perpassar TODAS as disciplinas tanto no ensino básico quanto no superior. A tal 'formação' que se espera que as pessoas que passam pelo ensino superior tenham não é uma disciplina isolada. É a construção de identidades, pela convivência em contextos e situações heterogêneas, a interação (q. é fundamental para qquer aprendizagem), o exemplo (que deveria estar sendo dado e na maioria das vezes não está...), o desenvolvimento da reflexão ... Tudo isso, além da exposição ao conteúdo em si, deveria perpassar todas as disciplinas.
Oooooops, I got carried away...
Abraços

Anônimo disse...

Êta! Essa menina (que se diz balzaquiana) sabe mesmo fazer acontecer uma boa discussão!

Flavio Ferrari disse...

Pegou não, Amandita...
É que eu gosto de ser do contra.
Mas a verdade é que eu prefiro usar os esteriótipos (estéreis em sí mesmo) para fazer piada.
Quando é para criticar prefiro evitar as generalizações.
Beijo

Anônimo disse...

Caros,

O problema que vejo é que hoje o conceito de ética não é mais universal... Não existe mais o respeito pela definição dos sábios (gregos) ou de um Deus (católicos).. A ética hoje está formada nos relacionamentos..

Com isto quero dizer que para uma organizaçao pode ser ético o namoro entre chefe e subordinado, para outra, um "pecado mortal"...

O relacionamento pessoal também é assim... Tenho amigos que "furar" de última hora é totalmente ético, já para outros é uma total falta de integridade!!

Mais uma complexidade do mundo moderno....

Anne M. Moor disse...

Ética é respeitar-se e respeitar o outro...

Udi disse...

Ti,
Uma empresa que proíbe namoro entre seus funcionários (seja entre chefe/subordinado ou entre iguais) já está partindo da idéia de que não espera que seu pessoal seja ético.
Namorar alguém do mesmo ambiente de trabalho não é anti-ético, será se você se utilizar dessa relação (fora das instâncias organizacionais) para ter alguma vantagem na empresa. E isso nós sabemos que pode acontecer, mesmo sem esse tipo de relação.

Flavio Ferrari disse...

Udi: a Ti é suspeita para defender essa causa ...

Udi disse...

Ti, pode, por favor, comentar a nota do Flavio?

Anne M. Moor disse...

Amanda, Me autorizas a botar um link do meu blog pro teu????

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Claro, Anne! A casa é sua, fica à vontade...
Ti, também estou curiosa!

Flavio Ferrari disse...

A Ti é suspeita para comentar a nota do Flavio ...

Anônimo disse...

Udi,

Já passei por uma organização em que o namoro entre chefe e subordinado era totalmente proíbida... O pior é que as pessoas cumpriam, já que ao contarem, a empresa se preocupava em realocá-los para que isto não influenciasse no trabalho.

Reamente acredito que esta relação direta atrapalha em muito, não só a vida profissional como pessoal..

Udi e Amanda,

Realmente devo estar muito diferente para vocês não me reconhecerem no vídeo.. Será que melhor?

O comentário do Flávio reflete três coisas:

- Meu ex-marido conheci na organização que comentei e, apesar de sermos apenas colegas, sem relação hierárquica, ele teve que optar entre ser transferido para outra área ou sair da empresa...

- Tive carreira em Recursos Humanos (agora ficou fácil heim?) e, portanto convivi com isto em várias ocasiões..

- E por último, bem esta não preciso nem falar, tô eu de novo na mesma situação... Dessa vez em uma organização que incentiva isto e sem qualquer relação entre chefe / subordinada... Apenas cliente / fornecedora... Sabe como é, tenho que atender bem!!

Beijos meninas... É muito bom conhecê-las assim, mais na intimidade!!

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Isso já está virando quebra-cabeça.
Ti, fui até o Arguta rever o vídeo com sua foto.. Você está de óculos escuros! Não reconheci.
Qui est tu, ma cherie?

Anne M. Moor disse...

Recorde de posts!!!!!!!!!!!!! E promete continuar... Um enigma a ser resolvido... por vcs... :-)

Udi disse...

Geeeenteeee!!! Esse espaço de comentários tá ficando quase tão emocionante quanto os episódios do Pecado e Capital.
Ti, acho que entendi e acho que sei quem você é... no entanto, minha discrição oriental não me permite "chutar" o nome que me ocorreu e muito menos tudo que entendi nas entrelinhas do termo "cliente/fornecedora".
Agradeço enormemente à sicronicidade que nos acometeu e também à sua sinceridade por poder proporcionar-me ouvir diretamente da fonte sobre assunto tão delicado. (odeio fofoca!)
beijo.
* se me permite, enviarei um email à Amanda que, a essas horas, já não deve mais estar com esse ar sereno daí da foto, de tanta curiosidade.

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

I´ve got it!!!
Ti (que difícil te chamar assim agora!!!), recebi seu último post, mas, já que está usando um pseudônimo, achei por bem não publicar. Ficamos assim, ok?!
E eu que nem sabia que uma pessoa tão querida já era habitué aqui no Sarau...
Udi, obrigada por me ajudar a esclarecer este mistério. Também acho que sem fofoca é mais legal!
Beijos a todos!
PS: Se eu tiver lido bem as entrelinhas desta história, estou bem feliz!

Anônimo disse...

Queridas Udi e Amanda,

Bom compartilhar com vocês coisas tão boas da vida!!

Quanto a continuar como Ti, acho divertido, combina com este mundo de magia proporcionado por nossos dois grandes escritores...

Udi,

Parabéns pela bruxisse!! Acertou em cheio logo da primeira vez...

Amanda,

Se você está feliz, imagina eu!!

Beijos

Udi disse...

Êêêba! Parabéns!
vou parar de me preocupar com noites de insônia.
;)
beijo

Udi disse...

...e eu acho que este post bateu recorde de comentários (dentre todos da "comunidade").
... meu comentário anterior foi?

Ernesto Dias Jr. disse...

Colaborando para esticar o record de comentários da Amanda.
Mas ói Amanda, assim não vale. Você tá deixando postagem estacionada aqui, a gente vai conversar aonde?
Posta mais, menina, que a gente gosta!

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Putz! E tudo começou com uma aulinha de ética...
Ernesto, desculpas pelo delay na liberação dos posts. Realmente, preciso melhorar a performance.